Nóticias

Padre Nazareno Lanciotti, uma testemunha fiel


Por: Ir Telma Pereira Barbosa
Durante o período do carnaval deste ano de 2014, pela primeira vez participei de um retiro do Movimento Sacerdotal Mariano (MSM), na cidade de Jauru, Mato Grosso.  Nesta oportunidade pude conhecer mais de perto e um pouco mais da história desse homem de Deus, Padre Nazareno Lanciotti. Ele era sacerdote italiano, mas dedicou a sua vida na evangelização e no serviço à Igreja,  mais precisamente nessa pequena cidade mato-grossense chamada Jauru, onde ele deixou as suas marcas de um apostolado fecundo e onde também derramou o seu sangue.
Em 1996 o Padre Nazareno esteve pregando um retiro do MSM na cidade de Nova Mutum-MT, quando pela única vez tive a oportunidade de vê-lo e ouvi-lo, pois participei de uma missa por ele presidida.  Porém, posso dizer que, estando em Jauru o reencontrei – não pessoalmente, mas no testemunho de tantas pessoas que narravam os seus testemunhos acerca da vida, da missão e da intercessão desse Sacerdote.
Vamos conhecê-lo melhor: 

O jovem Nazareno foi ordenado sacerdote no dia 29 de junho de 1966, passando a fazer

parte  do Clero de Subiaco, perto de Roma, na Itália. Com cinco anos de ministério migrou para o Brasil como missionário, ficando alguns meses na cidade de Poxoréu-MT e depois, em 12 de janeiro de 1972 iniciava o seu ministério em Jauru-MT.  E foi aí, nesse lugar pequeno e simples que ele se dedicou generosamente a todos, doando a sua vida na missão e se gastando pelo bem espiritual e material do seu povo, a quem ele ensinava a rezar, a adorar a Sagrada Eucaristia e a amar Nossa Senhora. Como fruto da sua presença, trabalho, dedicação e testemunho, nasceu aí uma fervorosa comunidade de fé, que se tornou depois a Paróquia Nossa Senhora do Pilar.

Padre Nazareno escolheu viver em Jauru porque na época era uma das comunidades mais pobres e necessitadas da região. Todos creem que o próprio Deus o inspirou e o impeliu a decidir-se por essa terra sedenta de missão. Jauru significava o oposto da Itália e oferecia “muito pouco” para quem vinha do berço das civilizações. Foi necessária uma profunda adaptação, feita com muitas renúncias, pois tudo era muito simples e desprovido de qualquer conforto. Na época não tinha energia elétrica, nem estradas, nem meios de comunicação e nem mesmo casa para ele morar. Nos primeiros meses o padre ficou hospedado num quarto de um modesto hotel construído de madeira.
Entretanto, nesse ambiente modesto e sem recursos materiais, havia muitos filhos de Deus esquecidos, com fome e sede do Evangelho, desejando alguém que lhes anunciasse o Amor e a Misericórdia do Senhor. Nestas terras, onde em meio a tantos contrastes era mais fácil desistir, Padre Nazareno persistiu e concretizou com docilidade, resignação e perseverança o seu projeto de vida que era “ser santo ou ser santo” pois, segundo ele mesmo expressara em um momento de oração “ou santo ou mal para sempre”. Ele fez a opção fiel pela santidade, assim viveu e assim morreu.

Ao longo dos vinte e nove anos que viveu em Jauru, trabalhou incansavelmente para oportunizar ao povo, da cidade e do interior, uma vida mais digna. Cuidava, como um bom pastor, não só da dimensão espiritual do povo, mas promovia a pessoa na sua inteireza. Já nos inícios, sensibilizado pela necessidade, Padre Nazareno montou um projeto e liderou a construção de um hospital com cinquenta leitos, através de ajudas vindas da Europa e com a ajuda da própria comunidade que, embora pobre, era sempre contagiada pelo entusiasmo do padre e dava de sua pobreza. Com o êxito deste projeto, que era um sonho e uma necessidade da comunidade, o padre foi conquistando a confiança e o respeito do povo. Muitas outras obras foram sendo encaminhadas e empreendidas, tais como: a construção da igreja matriz e posteriormente de várias capelas no interior,  a construção de um abrigo para acolher os idosos,  a construção de uma escola comunitária,  do seminário para acolher e formar os candidatos ao sacerdócio, dentre outras.
O padre incentivava o povo a buscar e a lutar pelos bens terrenos e pelos bens do Céu; ensinava a trilhar o caminho da fé. Semeou nos corações a semente do Verbo e ainda em vida pôde contemplar a abundância dos frutos. Com simplicidade insistente pedia sempre aos fiéis que confiassem a sua vida a Nossa Senhora. Dizia: “é Maria que nos leva a Jesus!” e pedia para que rezassem o terço todos os dias e se consagrassem à Mãe de Deus. Incansável e zeloso levou os seus fiéis a reconhecerem o valor da Adoração Eucarística e a necessidade da vivência dos sacramentos, especialmente o da penitência. Respondia a isso não medindo esforços para atender em confissão e sempre aconselhar as suas ovelhas.
Com toda essa dedicação e esses ensinamentos do Padre Nazareno, a ação de Deus foi abundante, pois inúmeras conversões aconteciam nas famílias, com os jovens e com os casais. Muitos foram atraídos a Cristo e trazidos à Igreja, através do Imaculado Coração de Maria.  Momentos fortes eram os Cenáculos habituais e os Retiros Espirituais promovidos, inicialmente para a comunidade local, mas depois atingiram proporções nunca pensadas, a nível regional, estadual, nacional e até mundial. Uma pequena semente tornou-se uma árvore frondosíssima. O fundamento de sua vida e de seu apostolado era a sua intensa vida de oração e intimidade com Deus, por meio da forte devoção mariana que vivia, ensinava e difundia. 

Em 1988 tornou-se o animador responsável pelo MSM no Brasil e, com isso, Padre Nazareno foi sendo bastante conhecido, bem como o seu entusiasmo e a sua fé fiel e firme. Muitos grandes Cenáculos Marianos ele dirigiu e acompanhou em muitos lugares do Brasil. Muitas vezes sozinho e várias vezes acompanhando o Padre Stefano Gobbi, fundador do MSM.  

Contudo, a sua doação de vida pelas nobres causas, a sua ilimitada entrega a Deus e as suas palavras duramente proféticas que anunciavam e denunciavam, foram também incomodando a alguns.  Assim, na noite do dia 11 de fevereiro de 2001, festa de Nossa Senhora de Lourdes, na sua residência em Jauru e na companhia de seus colaboradores mais próximos, Padre Nazareno sofreu um atentado fatal, foi baleado.  O assassino chegou a dizer que ele estava “atrapalhando alguém”. E antes mesmo de ser atingido por um tiro na nuca, o Padre ofereceu a sua vida a Cristo e se entregou a Nossa Senhora. O Padre Italiano docilmente aceitou a coroa do martírio e poucas horas depois do atentado, ainda lúcido, dava o perdão aos seus matadores. Ainda sobreviveu por dez dias, hospitalizado em estado grave, vindo a falecer no dia 22 de fevereiro,  festa da Cátedra de São Pedro.
“O sangue dos mártires é semente para novos cristãos”, dizia Tertuliano. Hoje, treze anos após o martírio do Padre Nazareno, Jauru continua sendo uma pequena cidade, dotada de costumes interioranos. Porém, portadora de uma grande e inigualável herança espiritual deixada por este sacerdote que encarnou de tal forma a semelhança ao Mestre, que não só viveu o testemunho da fé, mas derramou o seu sangue em favor dos irmãos.  Roguemos a Deus pela sua canonização!

 “O sangue dos mártires é a semente da Igreja.” (Tertuliano)


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