que representa um novo passo da Doutrina Social da Igreja e uma “road map” para
construir sociedades mais justas, capazes de proteger a vida humana e toda a
Criação.
uma celebração ritual. A semana e, depois, o ano dedicado à encíclica,
representam uma espécie de verificação para coletar iniciativas, ideias,
experiências e boas práticas; são uma maneira de compartilhar o que o documento
suscitou em comunidades, territórios e em todo o mundo; são uma ocasião para
refletir sobre a sua atualidade, no momento presente, enquanto o mundo inteiro
luta contra a pandemia da Covid-19.
parte dos fundamentos da relação entre as criaturas e o Criador, é ter-nos
feito entender que tudo está em conexão: não há questão ambiental separada da
social; mudanças climáticas, migração, guerras, pobreza e subdesenvolvimento
são expressões de uma única crise, que, antes de ser ecológica, é, no fundo,
crise ética, cultural e espiritual. Trata-se de um olhar profundamente
realista. “Laudato si” não nasce da saudade, que faz atrasar o relógio da
história para nos levar de volta às formas de vida pré-industriais, mas
individualiza e descreve os processos de autodestruição, desencadeados pela
busca do lucro imediato e do mercado divinizado. A raiz do problema ecológico,
– escreve o Papa Francisco, – consiste precisamente no fato de que “existe
uma maneira de entender a vida e a ação humanas, que é desviado e contradiz a realidade,
a ponto de arruiná-la”.
defrontar com a objetividade da condição humana, partindo do reconhecimento da
limitação do mundo e dos seus recursos; significa manter distância da confiança
cega, representada pelo “paradigma tecnocrático”, que, afirma o Papa,
seguindo o pensamento de Romano Guardini, “acabou colocando a razão
técnica acima da realidade, a ponto de não sentir mais a natureza, nem como uma
norma válida e nem como abrigo vivo”. A intervenção do homem sobre a
natureza, – lemos ainda na encíclica, – “sempre existiu, mas, por muito
tempo, teve a característica de acompanhar e seguir as possibilidades
oferecidas pelas próprias coisas. Tratava-se de receber o que a realidade
natural permitia, como estender a mão. Por outro lado, o que nos interessa
agora é extrair o máximo possível das coisas, mediante a imposição da mão
humana, que tende ignorar ou esquecer a própria realidade da qual se
depara”. Por isso, “chegou a hora de prestar novamente atenção à
realidade, com suas limitações, que, por sua vez, constituem a possibilidade de
um desenvolvimento humano e social mais saudável e fecundo”.
A
crise que estamos enfrentando, por causa da pandemia, tornou tudo isso ainda
mais evidente: “Avançamos com toda velocidade – disse o Papa, em 27 de
março passado, durante a “Statio Orbis” – sentindo-nos fortes e capazes de
fazer tudo. Ávidos pela ganância, deixamo-nos absorver pelas coisas e
transtornar pela pressa… não nos despertamos diante de guerras e injustiças
planetárias; não demos ouvidos ao clamor dos pobres e do nosso planeta,
gravemente doente. Continuamos impávidos, pensando de permanecer sempre
saudáveis em um mundo doentio”.
Durante aquele intenso momento de oração, para invocar o fim da pandemia, que nos fez
perceber quanto somos frágeis e indefesos, Francisco recordou ainda que somos
chamados a “assumir este tempo de provação como um momento de escolha …
um tempo para discernir o que conta e o que passa, e separar o que é necessário
do que não é”. “Laudato si” é uma guia para que possamos reconsiderar as
sociedades, onde a vida humana, sobretudo a dos mais indefesos, seja defendida;
onde todos tenham acesso aos tratamentos; onde as pessoas jamais sejam
descartadas e a natureza não seja saqueada indiscriminadamente, mas cultivada e
preservada pelas gerações futuras.