Companhia das Discípulas do Divino Pastor

Formamos uma Sociedade de Vida Apostólica chamada “Companhia das Discípulas do Divino Pastor”. Trata-se de uma forma, dentre tantas surgidas na Igreja, para se viver a Vida Consagrada a Deus no serviço do Reino.

Fundada no dia 01 de Agosto de 2000 – ano jubilar – em Diamantino/Mato Grosso, Brasil.

Um pouco da nossa história:

O Fundador, Padre Reinaldo Braga Junior, quando era pároco em São José do Rio Claro/MT, começou a ter pensamentos e também sentimentos que o inquietavam. Eles o faziam refletir sobre a realidade diocesana tão carente de material humano para a evangelização, animação das comunidades e ajuda no trabalho pastoral. Nesse tempo a Diocese contava com dois padres diocesanos apenas, e a grande maioria das paróquias não tinha a presença de Religiosas Consagradas.

Em meio a essa realidade de grandes desafios que a Diocese apresentava, ele começou a sentir, misteriosamente, uma vontade de iniciar uma obra diocesana para ajudar no trabalho pastoral da Igreja.

Eram os anos de 1998 e 1999, quando padre ainda muito jovem, com 25 e 26 anos de idade, movido por um grande amor à Igreja e sensibilizado pelas suas necessidades, sentiu uma inspiração muito forte para iniciar uma Obra de Irmãs Diocesanas que estivessem à disposição para o trabalho pastoral com o povo de Deus nas paróquias e tivessem vínculo territorial, oferecendo sempre ao Bispo a segurança de permanência e de continuidade.  Esta inspiração foi se tornando inquietação e, aos poucos até “atrapalhando” seu trabalho, porque roubava-lhe continuamente a atenção e tirava-lhe até mesmo a paz. Tentava esquecer, mas não conseguia.

Nessa mesma época foi enviado pela Diocese para um Curso de Formadores promovido pela Santa Sé em Roma – é que no ano seguinte (2000), a pedido do Bispo, ele iria reabrir o Seminário Menor na Diocese e assumir a formação dos seminaristas, especialmente porque já estava trabalhando desde que foi ordenado com a promoção e animação vocacional. Em Roma, mesmo na acelerada correria em função do curso que era intensivo, perseguia-lhe a ideia da fundação de uma Companhia Diocesana de Irmãs.

Depois de algumas semanas em Roma, conseguiu agendar uma Missa particular na Capela Clementina, junto ao Túmulo do Apóstolo Pedro. Desde que se inscreveu e depois quando se preparava para esta Missa, tinha uma única grande intenção: que se esta ideia da fundação fosse puramente humana e pessoal, a partir daquela celebração fosse banida e, se de repente fosse mesmo de Deus, que se clareasse e se consolidasse.  Precisava de um discernimento.

Chegou o dia da Santa Missa! Preparou-se e, da sacristia um coroinha da Basílica Vaticana acompanhou-o para responder a missa, que deveria ser em latim e versus Deum.  Na Capela, às 6h da manhã, estavam apenas os dois. Sua cabeça “fervia” ribombando aquela intenção de que fosse revelado por Deus o “não” ou o “sim”. Quando terminou a Missa, que era cronometrada de meia hora, e virou de frente, a pequena capelinha, sem que ele tivesse percebido quando entraram, estava cheia de freiras do México que estavam indo para iniciar uma missão na África – já viu aí um sinal. Dirigiu a elas algumas palavras e deixou a Capela. Enquanto caminhava com o coroinha em direção à Sacristia, inexplicável: no seu imaginário passava como que um “filme” descortinado e ele podia ver com nitidez tudo como deveria ser e como deveria fazer. Saiu da Basílica em paz e sentindo uma alegria interior muito grande, pois não tinha dúvidas de que Deus havia lhe ouvido e dado a sua resposta providente. Já começava a sentir, sim, um certo temor, vendo-se tão pequeno para algo tão sério que iria mudar, inclusive, a sua vida e ministério presbiteral, mas era consolado pela confiança no auxílio divino.

Deus falava ao seu coração de uma forma tão clara que ele já era capaz de conhecer e reconhecer muita coisa, como por exemplo: a quem deveria convidar, como a Obra iria se chamar, qual seria o Carisma, a Espiritualidade, como iriam se vestir, qual deveria ser a identidade e a missão … Tudo já parecia tão claro e com sinais iniciais de ser vontade de Deus.

Alguns dias depois, na praça de São Pedro, encontrou-se com o Cardeal brasileiro Dom Lucas Moreira Neves. Conversaram e o Padre falou-lhe da sua vontade de encontrar-se pessoalmente com o Papa João Paulo II; era um sábado pela manhã. No dia seguinte, domingo à noite, o telefone do seu quarto, no Pontifício Colégio Espanhol, tocou. Era o secretário particular do Papa, Monsenhor Stanislaw Dziwicz, hoje Cardeal Arcebispo de Cracóvia – Polônia, pedindo-lhe que estivesse às 6h da manhã da segunda-feira (dia seguinte) diante da Porta de Bronze para concelebrar com o Papa em sua Capela particular. Ficou radiante e agradeceu muito a Deus, pois é difícil conseguir tal graça em tão curto tempo; e se preparou naquela noite.  Muito cedo deslocou-se a pé e por fim de táxi, pois os ônibus estavam demorando muito, até o Vaticano; estava tomado pela emoção. Em dado momento, um secretário executivo se apresentou e começou a chamar os inscritos para subirem à Casa Pontifícia. Não o chamou. Todos entraram, menos ele. Tentou falar, explicar… mas tudo em vão. Porém não foi embora, mesmo com as portas fechadas ficou por ali. Um padre que havia entrado no grupo dos chamados, quando chegou na sala da paramentação, disse ao secretário que havia um padre lá fora e que não o haviam deixado entrar por não constar na relação de chamada. Imediatamente Monsenhor Stanislaw se lembrou que se tratava do Padre que ele havia incluído de última hora – a pedido do Cardeal – e que seu nome não estava mesmo na lista. Mandou buscá-lo lá embaixo e ele mesmo foi ao seu encontro no corredor, explicando-lhe o que havia acontecido.

Após uma preparação entraram na Capela pessoal do Papa para a Santa Missa. Eram de dez a quinze pessoas somente. Depois da celebração o Santo Padre veio até sua biblioteca acolher, saudar e falar com cada um. O Padre Fundador teve a graça de falar com ele algumas palavras e pedir-lhe a bênção para a Obra que estava sentindo a inspiração e o chamado para iniciar. O Papa João Paulo II abençoou os crucifixos e medalhas que as primeiras Formandas e as futuras Irmãs haveriam de usar (pois o Padre havia levado numa sacolinha algumas coisas adquiridas nos dias após a confirmação, para a Fundação). Sentiu grande consolação!

Quando regressou de Roma, precisava enfrentar uma grande batalha: falar com o Bispo sobre o assunto e pedir apoio e permissão. Ensaiou para esta conversa durante oito meses. Num dia, viajando com o Bispo a sós para Cuiabá, encheu-se de coragem, porém com muito temor, e falou-lhe o que precisava a respeito. Foi grande a sua surpresa: Deus já havia preparado o coração de Dom Canísio Klaus e a sua resposta foi de acolhimento e incentivo. O passo seguinte foi expor a ideia e o projeto para o Clero da Diocese, para o Conselho Diocesano e até em algumas Assembleias – a pedido do senhor Bispo. A intenção é que fosse um processo fundacional marcado pela sinodalidade.

Assim, começou um caminho de preparação para a entrada da primeira candidata, Nilde dos Santos, jovem leiga da cidade de São José do Rio Claro, com quem o padre fundador já tinha trabalhado durante os dois anos que foi pároco naquela cidade. Com a chegada da primeira candidata, marcou-se o dia da Fundação da Companhia Diocesana das Discípulas do Divino Pastor – era o dia 1º de Agosto do Ano Santo 2000.

Ela foi acolhida no próprio Seminário em Diamantino onde o padre estava como Reitor e logo outras candidatas, que já estavam sendo acompanhadas pelo SAV – Serviço de Animação Vocacional nas paróquias, foram sendo convidadas para encontros e algumas foram sendo admitidas para a Formação. Um pequeno espaço (dormitório) foi concedido no Seminário para a Comunidade inicial da Companhia se fixar, e ali ficaram por nove meses.

Uma coisa no coração do fundador era certa e inquestionável: as Irmãs tinham que nascer na Pobreza e serem provadas também pelas dificuldades e até pelo sofrimento. Para ele, a obra era de Deus e precisava ser regada pelo suor da doação, pelas lágrimas da humilhação e pelo sangue do amor ao Divino Pastor e ao Rebanho.

No dia 1º de Maio de 2001, sob a proteção e intercessão de São José Operário, o bispo Dom Canísio e o padre Fundador realizaram a bênção da primeira casa, e as Noviças, Postulante e Aspirantes puderam habitá-la, formando assim a primeira comunidade da Casa-Mãe da Companhia das Discípulas. A Casa-Mãe recebeu o nome de “Fraternidade Santíssima Trindade”. Tratou-se de uma casa velha em ruínas, abandonada no meio da pastagem, que a pedido do Fundador foi doada pelo Bispo e, com muita luta e esforços empregados, bem como ajuda de pessoas, foi reconstruída e transformada.

Nos primeiros tempos da Fundação, as Irmãs e formandas, por necessidade da Diocese e também para sobreviverem, doavam-se nos trabalhos domésticos (cozinha, limpeza e lavanderia) do Seminário e do Bispado. Esse trabalho humilde, mas feito com muito amor e alegria, também despertava críticas e chacotas desagradáveis, especialmente por parte de outras congregações; o mesmo se dava pelo motivo das Irmãs Discípulas usarem hábito.

Aos poucos as Irmãs começaram a se envolver pastoralmente na comunidade e também na área da educação como professoras, e as vocações foram aumentando.   A Casa-Mãe já estava cheia, meninas com data marcada para ingressarem … onde colocá-las?

Mais uma vez a Providência de Deus não faltou. A Diocese recebeu, nesse mesmo tempo, uma casa na Paróquia de Nortelândia, onde por vários anos havia funcionado uma Maternidade, e o Bispo disse ao padre Fundador que só aceitaria a doação se as Irmãs Discípulas ocupassem a casa e servissem pastoralmente aquela comunidade. Nortelândia era uma cidade muito simples, com muita pobreza e as Irmãs deveriam especialmente trabalhar no âmbito social e assistencial, além de ajudar na pastoral, é claro. O padre aceitou a proposta, porém se tratava de um novo desafio. A casa estava fechada há alguns anos e, por isso muito danificada, sem condições de ser habitada. Precisava de reformas e adaptações para acolher a comunidade das Irmãs.  Foi mais uma luta! Economias, sacrifícios, pedidos de ajuda a pessoas … A Diocese também ajudou a equipar a casa que passou a ser chamada de Centro Social Diocesano.

No dia 12 de Março de 2002 realizou-se a celebração de bênção da casa de Nortelândia. Tratava-se da segunda casa da Companhia – “Fraternidade Divina Pastora”. Erigiu-se aí a Comunidade Formativa do Aspirantado e do Postulado. As Irmãs realizaram nessa cidade e paróquia um maravilhoso trabalho com as pastorais, na secretaria paroquial, nas escolas e no atendimento aos mais pobres.

Pouco tempo depois foi solicitada a presença e o trabalho pastoral das Irmãs Discípulas do Divino Pastor na Paróquia de Nova Mutum-MT. A comunidade local construiu a casa para as Irmãs e as acolheu no dia 23 de Janeiro de 2004.  Foi a terceira casa da Companhia e recebeu o nome de “Fraternidade São José”.  As Irmãs inseriram-se aí diretamente em todos os trabalhos pastorais da paróquia e na área da educação.

Desde a Fundação, a Companhia contou com a ajuda direta, programada e regular de uma Consagrada para a Formação das Aspirantes, Postulantes, Noviças e até das Professas. Trata-se da Ir. Sarvelina Maria Nicolodi, que foi religiosa da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição por muitos anos e depois passou a viver como Consagrada pela Diocese. Era professora aposentada e suficientemente capaz de conduzir e lecionar os temas relacionados no conteúdo programático para as etapas de formação na Companhia. Além da assistência sistemática da referida Irmã que semanalmente ministrava os conteúdos, sempre teve uma Irmã Discípula escolhida e nomeada como responsável para acompanhar de perto as formandas.

Hoje, com várias Irmãs Professas e formandas, a Companhia também oferece acompanhamento a vocacionadas que se preparam para entrar. Após a Consagração Religiosa, normalmente as Irmãs são encaminhadas para cursarem Faculdade. A formação permanente também acontece através de cursos, treinamentos, capacitações e estudos feitos em comum.

Ao longo dos anos houve adequações na distribuição das Fraternidades, alguns trabalhos já realizados deram lugar a novos desafios e envolvimentos pastorais, bem como novas casas foram abertas e novos projetos foram assumidos como missão.

Atualmente as Irmãs Discípulas do Divino Pastor assumem variados trabalhos, como por exemplo:

  • Estão inseridas na Pastoral Catequética (ministrando catequeses especiais, ajudando em coordenações e assessorias, e contribuindo na formação de catequistas nas comunidades).
  • Assistem aos enfermos regularmente com visitas domiciliares e hospitalares provendo o conforto espiritual, levando a Eucaristia e promovendo a assistência médica e outras aos doentes mais carentes, num trabalho de Pastoral da Saúde organizado.
  • Ajudam na articulação e preparação das Liturgias e no zelo pelas igrejas e coisas do altar.
  • Assistem as famílias pelo aconselhamento, oração, visitas e trabalho junto à Pastoral Familiar e Movimentos Familiares.
  • Assessoram a Pastoral Juvenil e Movimentos de Adolescentes.
  • Acompanham e ajudam a dinamizar Pastorais Sociais como: Sobriedade, Carcerária, da Criança e da Pessoa Idosa.
  • Integram e ajudam nos trabalhos da Pastoral Vocacional-SAV.
  • Acompanham e dão assistência espiritual a alguns movimentos, tais como: RCC (Renovação Carismática Católica), Lareira (Movimento Familiar), Apostolado da Oração, Cenáculo, Infância Missionária, etc.
  • Acompanham e animam grupos de Base, especialmente de reflexão em comunidades mais carentes e de periferia.
  • Ajudam diariamente no atendimento a comunidades rurais, promovendo sua organização, implementando pastorais e animando-as através da música nas liturgias.
  • Marcam presença e desenvolvem ajuda pastoral junto a Povos Indígenas e Assentamentos.
  • Na falta do sacerdote, presidem celebrações da Palavra, distribuem a Eucaristia, realizam Pregações, celebram Funerais, etc.
  • Organizam, pregam e animam encontros de oração nas comunidades e ajudam em semanas missionárias.
  • Coordenam e dinamizam Projetos Sociais de Assistência a famílias carentes.
  • Desenvolvem trabalhos em Projeto que acolhe e acompanha crianças de periferia.
  • Realizam trabalhos de acolhida, assessoria de comunicação e acompanhamento das atividades de formação e de evangelização na CNBB Regional e Nacional.
  • Prestam serviços junto a setores ligados à Secretaria Técnica na Sede da Conferência Episcopal.

Após o percorrido dessa bela história, resta entoar, com a Virgem Mãe – Divina Pastora com Jesus – o hino do Magnificat que nos permite louvar, agradecer e engrandecer o Senhor que olha para os pequenos e realiza grandes coisas em nós, por nós e através de nós.

Em tudo e acima de tudo não há no coração das Irmãs Discípulas do Divino Pastor e tampouco no coração do seu Fundador uma outra pretensão a não ser esta: SERVIR, SERVIR, SERVIR, com Amor e a Alegria do Evangelho!

Sempre,

Ao Filho Jesus,
com a Mãe Maria,
no Coração da Igreja.